A Engenharia de Produção e os Sistemas de Saúde
Veja alguns conceitos que relacionam a Engenharia de Produção e a área da saúde e como podemos contribuir com soluções para a crise ocasionada pelo coronavírus
Recentemente, em decorrência da situação de pandemia no mundo atual, foi publicado no canal Engenheiro de Produção um vídeo sobre a relação da Engenharia de Produção com a área da saúde, ou seja, como nossas ferramentas e metodologias podem contribuir com esse setor tão sensível hoje no Brasil.
Veja o vídeo para ter acesso a análise completa dessa relação:
Mas então, quais destes conceitos podem nos ajudar a desenvolver um bom trabalho no setor de saúde? Neste artigo, assim como no vídeo, vamos falar sobre quatro possibilidades: um modelo integrado focado no paciente; custos em saúde; lean healthcare; e logística na saúde.
A estratégia que irá corrigir os sistemas de saúde
Em 2013, Michael E. Porter (o mesmo das 5 Forças de Porter), juntamente com Thomas H. Lee, publicaram um artigo na Harvard Business Review intitulado “The Strategy That Will Fix Health Care“. Neste artigo eles apresentaram um modelo que mudaria a concepção de como se dá um serviço de saúde.
Assim, ao invés dos sistemas pensarem nas especialidades, Porter e Lee sugerem um modelo integrado de saúde focado em gerar valor para o paciente. O modelo é baseado em seis pilares:
- Unidades de Práticas Integradas (Integrated Practice Units – IPU): unidades voltadas para solução de problemas específicos que possua todo o aparato para resolver estes problemas. Exemplo: uma IPU de coluna deve conter médicos, equipamentos para Raio-X, fisioterapeutas e tudo mais de profissional, equipamento e procedimento necessário para resolver problemas de coluna.
- Medição de Resultados e Custos para Cada Cliente: ao invés de indicadores globais do sistema, priorizar os resultados e custos por paciente, para entender exatamente como o sistema se comporta em torno dele.
- Pagamentos Voltados a Ciclos de Tratamento: desenvolvimento de pacotes de tratamento, nos quais os valores são previamente fixados e o paciente paga pela solução do problema e não para os especialistas.
- Integração da Prestação de Serviços em Instalações Separadas: não necessariamente todas as operações das IPUs precisam estar no mesmo local físico. Podem haver instalações separadas, porém obedecendo uma integração no sistema global de solução de problemas.
- Expansão da Excelência de forma Geográfica: como cada região tem seus problemas específicos, as IPUs precisam estar em consonância com as principais demandas de saúde regionais.
- Construção de uma Plataforma Eficaz de Tecnologia da Informação: uma plataforma capaz de integrar todas as informações geradas por este sistema para otimizar o tratamento de dados e armazenar e gerar relatórios tanto dos dados individualizados como dos dados do sistema como um todo.
Portanto, a ideia do modelo de valor busca inverter a lógica das especialidades para um foco no paciente. Assim, eles buscam um sistema que premia o serviço de excelência e ao mesmo tempo o cliente sai satisfeito. Como o pagamento é fixo, quanto menos recursos forem utilizados, mais lucro o provedor do sistema terá. Do outro lado, o paciente só sai do sistema com a sua dor solucionada.
Como resolver a crise de custos nos sistemas de saúde
Antes dede 2013, Porter já havia escrito outro artigo na Harvard Business Review juntamente com Robert S. Kaplan (conhecido pelo Balanced Scorecard – BSC) em 2011. Intitulado “How to Solve the Cost Crisis in Health Care“, o trabalho fala basicamente da questão de individualizar os custos, ou seja, desenvolver indicadores de custos por paciente.
Isso nos dá a entender que o próprio trabalho do modelo integrado de Porter e Lee (2013) sofreu influências deste artigo de Kaplan e Porter (2011). Essa ideia de analisar o sistema de saúde por paciente é a grande aliada do conceito de gerar valor para o cliente.
Nessa esteira, o trabalho de 2011 também desmistifica algumas ideias sobre custos em hospitais e sistemas de saúde, tais como: são custos muito complexos; e são em sua grande maioria custos fixos. Com isso, os autores colocam que a análise de custos neste contexto não é um bicho de sete cabeças.
Lean Healthcare
Essa é a clara mescla entre a produção enxuta, ou lean manufacturing, e os serviços de saúde. Ou seja, aplicação dos conceitos do sistema Toyota de produção em hospitais, através da redução de desperdícios e utilizando ferramentas como: 5S; PDCA; VSM, Kanban, entre muitas outras. Inclusive, uma das mais utilizadas neste contexto é o Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM).
Muitas vezes essa redução de custos e desperdícios podem ser confundidas com precarização do serviço oferecido. Porém, implementar dessa forma é, necessariamente, uma implementação mal sucedida, pois o Lean prevê uma execução eficiente do processo da forma mais simples e com a menor utilização de recursos possível. Ou seja, o serviço precisa ser executado adequadamente para obter sucesso.
Logística nos Sistemas de Saúde
Por fim, a última interseção da Engenharia de Produção com os sistemas de saúde que irei apresentar aqui é a Logística. Isso porque o abastecimento virou um ponto de extrema atenção, de norte a sul no Brasil e até mesmo em países com infraestrutura logística mais moderna.
Com a crise decorrente do coronavírus as pessoas passaram a consumir, por exemplo, menos produtos supérfluos e mais produtos de higiene e saúde (máscaras e equipamentos de proteção em geral, medicamentos, álcool em gel, entre muitos outros).
Isso demanda uma reorganização tanto dos sistemas produtivos quanto dos sistemas logísticos, pois as indústrias precisam repensar os produtos que desenvolvem e reconfigurar suas linhas de produção, e as distribuidoras e transportadoras precisam repensar suas frotas, seus modais e suas rotas de transporte.
Assim, o Engenheiro de Produção, detentor de conhecimentos profundos em Logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos, tem total capacitação para intervir nessas reconfigurações de sistemas produtivos e logísticos. Tudo isso em prol da palavra de ordem que muitos alunos e profissionais ouvem o tempo todo: a otimização.
Conclusão
Portanto, em um momento de escassez e incertezas como esse, o Engenheiro de Produção é um profissional que pode e muito contribuir para o melhor desenvolvimento, gestão e manutenção dos sistemas produtivos e, de forma especial, para os sistemas de saúde.
Mais do que nunca precisamos desenvolver sistemas de saúde eficientes e que possam gerar valor para os pacientes, pois quando falamos em desperdício de recursos na saúde, podemos ao mesmo tempo estarmos falando em perda de vidas.
Este post é uma parceria com o canal Engenheiro de Produção.
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